Dê uma bengala ao velhinho

A ânsia de ir caminhar pela quadra possuía o idoso. Só uma voltinha é o que ele queria. Mais não podia porque não tinha uma bengala e não conseguia mais andar sem uma. Antes ele andava a cidade toda para fotografar os pontos mais bonitos e os decadentes. Era fantástico.

Agora o máximo que consegue é fazer o inútil trajeto pela própria casa. Ir até a cozinha, preparar um café ou chá, olhar a janela e ver quem passa, quem ainda não precisa de apoio para caminhar. Depois ir ao banheiro, fazer xixi, lavar as mãos, tomar banho, ir até a sala se vestindo para não perder a noticias das duas, e enfim, até o quarto, apagar as luzes e dormir. Nem companhia lhe sobrou, sua mulher morreu ha três anos atrás. Ele a amava muito, mais do que as fotografias que fazia.

O idoso tinha problemas, tinha depressões, falta de afeto e cuidados. Mas o que mais lhe fazia falta era a bendita bengala que lhe levaria a tão cobiçada volta pela quadra.