Sessão de hipnose

Tapei os ouvidos, e logo, os olhos. Voltei a mente para o passado, tentando imitar atores de filme fazendo hipnose. Lembrei-me que estava com um pedaço de queijo furado na mão e precisava comer antes de começar a cessão. Mastiguei, engoli. Me voltou a mente um abraço que meu antigo cachorro deu, me lembrei de antigos amigos, antigas escolas, antigos professores. Lembrei de um tal garoto por quem me apaixonei um ano e meio atrás. Recordei seu tom de pele, o jeito que fazia um olhar muito sedutor pra me olhar, o abraço apertado, quando me chamava de linda... foi então que o som que sua voz fazia não estava mais presente, havia fugido de mim. Um pássaro o roubou, o levou para longe. Tentei de tudo para escutar aquela voz, tapei com tanta força os ouvidos que acabei desequilibrando e a cadeira onde eu havia me sentado caiu pra trás. Ploft. Abri os olhos e bati a cabeça, nem liguei. Deitada mesmo, ali no chão, continuei a cessão. Nenhum resultado. Desejei saber qual era seu numero de telefone, desejei que se eu soubesse, tivesse alguma desculpa boa o suficiente pra ligar essa hora da manha, ou seja lá que horas fosse. Chorei, ri, tossi. Chorei mais uma vez e lamentei a saudade que estava do beijo na testa, do tapa na bunda, do timbre que a voz fazia quando ele ria.