Tem um rato na minha casa

As 7 horas estava eu, recém acordada, tomando o café da manhã. Nescafé com queijo. Senti sede, levantei e fui buscar um copo de água. Quando voltei a mesa, o queijo estava com uma pequena mordiscada em forma de dentinhos... Oh pai, que é isso? será que há um rato em minha cozinha? que danado, tão ligeiro. Já estava atrasada, joguei o queijo fora e fui trabalhar. A noite quando entrei em meu apartamento tomei um baita susto... almofadas do sofá ao chão, algumas roídas. Na cozinha os armários abertos, comidas esparramadas, cocozinhos de chocolate fedendo a mesa, fazendo uma trilha encantadora. O quarto com apenas um copo de leite derramado na mesinha ao lado da cama (este eu mesma quem derrubei e tive preguiça de limpar na noite anterior). O banheiro com um novo rastro de sucrilhos fedidos e xixi por toda parte. Minha casa se transformou em uma verdadeira obra de arte, rato artista! pensei até em fotografar e vender ao museu, um dinheiro extra sempre é bem vindo.

Será que é só um monstrinho a fazer isso tudo? devem ter uma família de 30 deles. Tranquei-me em cada comodo e revirei tudo com uma vassoura na mão. Tive um encontro agradável quando cheguei a sala. Imagine só, uma coroa de 34 anos em cima do sofá, segurando uma arma de madeira, gritando 'morre, morre' para um roedor que estava subindo em cima do mesmo móvel, tentando ser morto, chegando até meu pé e eu caindo, deslumbrante, em cima da mesinha de vidro. Como o rato tinha subido no pé, e o tombo foi de costas, o bicho fez um voo espetacular diretamente para a parede. Ele uivou. Eu desesperada gritei mais uma vez 'te pego safado', balançando a madeira ameaçadora.

Liguei para um dedetizador, logo bateram na porta, era um homem vestindo uma roupa engraçada e com um aparelho assustadoramente grande, e outros menores. Estava pronto para a guerra com o ser maníaco. Ele pediu para que me retirasse, eu precisaria de roupas especiais para permanecer, coisa que eu não tinha. Me explicou que passaria veneno, sugaria todos os cantos com um dos aparelhos parecidos com aspirador de pó, usaria naftalinas e mais um punhado de negócios que matam esse tipo de devastadores. Concordei, 750 reais veio a tona, discordei e quase o dispensei, mais eu realmente precisava me livrar do bicho. Paguei.

Ao lado de fora escutei vidros quebrando, móveis batendo e barulhos desconhecidos. Eu devia ter colocado uma câmera para assistir e rir mais tarde, pena que não pensei antes.  Quatro horas depois eu pude entrar, limpei o desastre e fui jantar tranquila. Quando fui para a cama levei outro susto, pulei, gritei, chorei e corri em direção do indivíduo que estava rebolando para mim, com seu rabo repugnante. Que nojo. Ele correu, se enfiou em baixo do travesseiro, eu joguei tudo ao chão.Sumiu, o infeliz sumiu. Como é que pode uma coisa dessas. 10 á 0 para o roedor. Como ele sobreviveu aos venenos todos? deve ter uma esconderijo cheio de comida, deve ter até andares.

Sai na mesma hora, comprei 300 ratoeiras e as armei por todos os lados, com pedaços de queijo furado. Eu mau podia andar. A ultima coloquei na porta, antes de fechar. Hoje eu iria dormir do lado de fora, no tapete de 'boas vindas' com uma manta verde. Agora ele morre.

Acordei feliz, abri a porta e me deparei com ratoeiras sem queijos e ainda armadas. Todas elas, as 300. Não acredito, vesti meu óculos para olhar melhor. Andei pelo apartamento nos pequenos vãos que haviam de chão, observei um por um. O monstrinho havia levado tudo para seu palácio escondido... eu acabei de lhe oferecer alimentos para o resto do inverno. Ele deve cursar algumas aulas sobre sobrevivência. Como se já não fosse o suficiente, a bagunça dos objetos estavam bastante visíveis. Recolhi as ratoeiras cuidadosamente e decidi que não tinha mais jeito, eu nunca o venceria. Iria me mudar no sua seguinte. Organizei minhas coisas e parti.

Me mudei para a rua de classe média, 'olho de Arnaldo' se chamava. Instalei-me e finalmente fui deitar no quarto e assistir meu programa de tv favorito. Só o que eu não sabia é que dentro da bolsa de viagem, ainda na nova sala, havia um rato demolidor de casas que se enfiara escondido enquanto eu usava o banheiro antes de partir.