O envelope assassino

Eram 3 da tarde e o celular toca em cima da mesinha da sala, marcando 'numero restrito'. Atendi, uma voz grossa e suave é jogada em meus ouvidos, me deixando bastante preocupada. Peguei meu casaco, tranquei a porta do apartamento. Pelo caminho fui prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo e passei na banca de jornais.
Ele já estava lá, sentado no banco da praça, com o envelope nas mãos. Sentei-me ao seu lado, com o silêncio como terceira pessoa. O envelope chega até mim, o moço coloca sua mão esquerda em meu rosto , me beijando a boca, depois, vai embora, e eu observando seus passsos até desaparecerem. A carta não era pra mim, era para ser entregue a seu irmão, Pablo. Comprei um saquinho de pipoca com bacon e fui em rumo ao destinatário.
Bati quatro vezes na porta, Pablo me atendeu com um enorme sorriso, lhe entreguei o envelope, ele me fez entrar e me serviu um cappuccino, que me recusei tomar. Abriu-o e começou a ler em voz alta:
" Me desculpe por ter feito você andar até a casa de Pablo, mais eu quero que seja ele quem leia para ti esta carta. Me desculpe também por ter partido. Você sabe que foi a mulher que mais amei e amarei. Vai ser melhor assim para nós dois. Me perdoe as tantas vezes que te fiz chorar, se eu pudesse levar todas as tuas más lembranças comigo, eu levaria. Quero que você seja feliz, ache alguém que tenha este dom, que eu infelizmente não tenho. Não direi onde vou por que sei que és teimosa e virá atrás, e não quero que perca tempo com isso, mesmo eu querendo que viesse me impedir. Não se preocupe comigo, ficarei bem. 
Peça a Pablo para te dar toda minha coleção de vinil que tu tanto queria.
Beijos, amo você, Adeus.
As palavras vieram até meu colo, onde foi deixado. Ele se levantou do sofá cor pêssego, foi em direção a cozinha. Abracei a carta no peito, forte, como se fosse uma pessoa, depois chorei. Pablo gritou da cozinha perguntando se eu queria comer bolo, respondi em um soluço que não, obrigado. Ele voltou com duas facas e um prato com bolo,deu pra mim e mandou eu comer.Não perguntou, nem pediu, mandou. Eu disse que não queria e levei um susto, em um grito que disse que era pra mim comer a porcaria do bolo, ele tinha feito pra mim,sabia que eu viria, gritou também coisas como: "Eu te amava! mais o otário do meu irmão sempre quis tudo que eu tinha e queria, você nunca me deu bola mesmo, ele te roubou de mim! roubou de mim! você você vai morrer, é melhor correr por que eu vou te matar, se ele pode beijar você, eu também posso, e ninguém mais, ninguém mais vai beijar você porque eu vou te matar." corri em direção a porta, mais estava trancada, ele me agarrou e me beijou a força, o empurrei e comecei a gritar, pedindo ajuda, pedindo pra ele parar , corri pra cozinha, ele estava com as duas facas correndo em minha direção, peguei uma panela qualquer pra tentar me proteger e então foi ai que senti a primeira facada.
Bem, as outras foram vindo em seguida, repetitivamente, lentamente enquanto suas risadas sádicas e meus gritos agonizantes pairavam no ar. Depois? não me lembro o que aconteceu depois.
E a carta ficou jogada no chão, e os discos de vinil na mesma prateleira de sempre.

5 comentários que me fazem sorrir:

Luís Monteiro disse...

Êta final. Que trágico o que os sentimentos fez com esse moço né? -0-
Bjws, "!

silvioafonso disse...

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Não posso dizer, mas se vo-
cê insistir, quem sabe?
O gostoso desses dois últi-
mos textos do meu blog e a
incógnita. Nada haver com
Agatha Christie, mas o jei-
to de síntese que eu encon-
trei para não cansar os que
me honram com a leitura do
meu blog, foi esse.

Um beijão do,

Palhaço Poeta







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Nanda Prado' disse...

Nossa, que fim horrível, mas o texto em si ficou perfeito!

Beijoos

Erick Silva ! disse...

Gostei muito (:

Isabely Rodrigues disse...

Nossa, que final, beijos.
http://fasesdegarota.blogspot.com.br