Quando
vivia minha infância, eu era como tu, tão sorridente e simpática, sem vergonha
de mostrar ao mundo que me sentia viva e cheia de esperança para compartilhar.
Meu sorriso era o mais lindo, mais estrelado e encantador, meus olhos os mais
sinceros e confiantes, dona de uma ingenuidade maravilhosa e gostosa de se ter,
nada era ruim, nada me afetava, nada era tão feio a ponto de me entristecer ou
aborrecer, nada era escuro, – e quando era, improvisava uma vela! – nada de ignorância,
nada de dor, nada de nada, apenas um pouco de tudo. Tudo de perfeito, realmente
perfeito, nem tenho do que reclamar.
Estou te
escrevendo para avisar, não deixe que aconteça o que veio a me acontecer.
Em
minha adolescência parte de mim se foi com o vento do outono, como se tivesse
levando as folhas secas que cai das árvores, mais de mim não eram as secas, e
sim as mais verdes e fartas.
Tortuosamente fui
me tornando o que sou hoje.
Um ‘te
amo’ não dito, uma briga com a melhor amiga, pai bebendo e falando muito alto,
música estressante do visinho, a roupa
que não serve mais por ter engordado, pessoas indo embora sem ao menos
acenar... e assim aos poucos fui implodindo.
Sabe, deitar a
alma de pessoas em meu colo, não é uma tarefa tão agradável.
A
primeira folha que o vento me arrancou foi a ousadia, e olha que essa danada me
fez falta! Eu costumava usar para em vês de um, dar cinco passos a frente.
Usava quando alguma pessoa que eu gostasse muito precisasse de ajuda, ‘deixa
que eu faço ’ eu dizia. Em especial, usava para novas idéias que modéstia parte,
eram ótimas.
Eu mal consigo
fazer o único trabalho que tenho e sempre faço da mesma forma monótona de
sempre.
A
segunda folha, o esplendor que pertencia
a minha face.
Como é
mesmo que se ri? ‘ primeiro com uma ponta do lábio puxada para o lado, depois o
mesmo com a outra ponta do lábio, pronto, agora só feche um pouco teus olhos,
ótimo.’
Terceira,
três vezes, três folhas, terceira folha foi a ingenuidade, minha doce
ingenuidade. Era ótimo ver tudo assim,
sem maldade, sem malicia. ‘Ninguém me faria mal, por que faria?’. Ótimo seria
ouvir uma frase e pensar em somente um significado para ela, ver uma atitude e
não pensar que aquilo tudo se chama ódio.
Meu carro quebrou,
não vou poder ir até a lanchonete, desculpe. ‘Eu sabia que ele não queria me
ver, como pude ser tão idiota em acreditar? Não devo ser o bastante, já sei,
deve ser meu cabelo que é muito feio, ou essa espinha na minha testa.’
A outra
folinha verde de outono? Estela querida, nem parece que estou escrevendo para
ti, não é? Perdoe-me, serei mais delicada de agora em diante. Pois bem,
continuando.
A
outra folha: eu já estava tímida, séria e paranóica. O que mais poderia se
tirar de mim? Tente adivinhar pequena Estela (acho que não esta sendo boa esta
interação contigo, vou melhorar, pretendo melhorar.) a quarta foi algo mais
fundo do que meu ser, foram os outros seres. Não fui clara, vou explicar assim
que deitar esta alma em meu colo.
Da onde já se viu
parar uma carta de tamanha importância para levar uma alma.
Finalmente
poderei terminar. Ande paramos? Ah sim, eu ia te explicar. Levaram algumas pessoas que
eu precisava, mais não este levar de morrer, um levar mais ignorante. Estava
ali, mais não estava,ignorava . Desde então comecei a me virar sozinha, contar
meus segredos para mim, me abraçar quando fazia frio, me acariciar quando
precisasse de caricias, enxugar minhas lágrimas com minhas próprias mãos,
sentar no chão e ficar, ficar, ficar e ficar. Eu e eu, eu comigo, comigo e eu,
comigo e comigo, e por ai vai.
Poderia ser um ‘
eu e você’ ou ‘eu e contigo’, ‘contigo e comigo’. Mais não, teve que ser ‘comigo
e comigo’. Lamento por mim.
Sozinha
e sem a luz, tropeçando em meus próprios pés. Estela, não quero que tu tropece
eu teus pés, por isso te escrevo, por favor mantenha a atenção.
Logo
em seguida, outra ventania e meus sonhos desapareceram. Simples assim, querida.Simples como a frase que escrevi. Eu sonhava com um castelo lilás, que tivesse
tudo lilás dentro dele, sonhava com um príncipe que nunca chegara, também com
melhores amigos, sonhava voar... e foi exatamente isso que aconteceu, voei,
mais para o sentido contrário de onde eu realmente queria me encontrar. Para o
sentido ao contrário de onde estavam todos estes sonhos.
Eu sonhava que eu
era uma princesa. Estela, você é uma princesa, nunca se esqueça disso.
A sexta folha coradinha tinha o nome de
sensibilidade. Mais sabe, esta não sei te explicar, pois me tornei tão sensível
ao ponto de que endureci. Por minha ingenuidade antes era tudo mais simpático,
menos afiado. Perder a sensibilidade, para ganhar o frieza.
Aprendi a rastejar
e sangrar por dentro e sorrir feito débil
por fora, não queira aprender, é extremamente assustador .
O que
mais que me foi tirado Estela?
Minha simpatia,
meus sorrisos, minhas expressões, meu modo de animar os desanimados, minha
força, minha luz, minha paz, e como se não estivesse ruim/bom o suficiente, por
ultimo, e não tão ultimo, levaram meu
direito de ser humana.
‘Se é que tem mais
algo a me tirar agora que me tornei assim, ou isso.’
Ignorância
minha, querida Estela, pensar que irá entender esta carta aos teus 8 anos. Sei
que tua idade não te permite entender o que escrevi, fico imensamente feliz por
tua capacidade de não compreender, eu queria poder não compreender também. Mais
te peço para reler sempre esta imensa escrita, um dia o outono vai chegar e ter
um vendaval forte o suficiente que te atinja, então começara a te fazer algum
sentido, e poderá impedir de se tornar
algo tão tristonho, como eu.
Te escrevo porque
és como eu era, mais não quero que depois seja como eu sou.
Carta feita por uma ceifadora de almas qualquer, em 1878, meses depois de se tornar uma ‘mata-humanos’. Para uma garota de 8 anos, que já não tem mais 8 anos.
5 comentários que me fazem sorrir:
Fiquei surpresa com tudo que li. Li do começo ao fim, eu estava aqui lendo o post abaixo quando surgiu esse. Fiquei curiosa a ler, comecei lendo o início e me impressionando com tudo o que ia acontecendo e que por um lado me identifiquei..essa coisa de não confiar tanto nas pessoas depois de um tempo, perder um pouco a sensibilidade e tantas outras virtudes que a dor e que a vida nos faz perder aos poucos. Embora isso ocorra, não se pode deixar abater realmente. Fiquei comovida com a carta e com o que ela dizia *__*
Abraço.Boa Noite!
Estarei seguindo e aguardo sua visita ao meu blog! ^^
"Aprendi a rastejar e sangrar por dentro e sorrir feito débil por fora, não queira aprender, é extremamente assustador ."
‘Se é que tem mais algo a me tirar agora que me tornei assim, ou isso.’
Te escrevo porque és como eu era, mais não quero que depois seja como eu sou.
Amei... Sinto dizer que já fui uma ingenua Estela... Mas agora sou assim, ou como você disse, sou isso. Mas sinto que os que já foram ingênuos podem conseguir lutar, mesmo sem a folha da ousadia, ou a da esperança, mas lutar e assim não sermos ceifadores de almas quaisquer.
Sentiu minha falta? rsrs Amo seus textos!! *-*
lokasimplesmente-books.blogspot.com
q lindoo texto! amei *-*
tem post novo lá no blog: http://adoravel-cupcake.blogspot.com.br/2012/03/italia-em-miniatura.html
já segue? entao mande um recadinho para que possamos retribuir!
bjos
Lari, minha pequena, talvez você esteja apenas aprendendo a viver. A vida nem sempre conserva as coias no seu lugar, porque os ventos do outono levam embora mesmo o que foi bom... Faz parte.
Mas sabe, em todo outono do ano, as folhas caem, caem para que novas folhas floresçam.
Tudo segue, envelhece, tudo muda. E a gente precisa andar de acordo com a carruagem. Ainda que fiquem para trás sentimentos bons. Só não se esqueça de sempre checar se seus sonhos estão guardados dentro da mala que te acompanha no coração.
E, ainda que a arvore fique seca, acredite, um dia ela irá florescer. E tudo voltará ao seu ciclo natural. Esse vai e vem. Essas idas e vindas da vida, que só servem para uma coisa: te ensinar a viver. A resistir, a seguir em frente.
E, lindo texto. Muito lindo.
Bjws moça, amo-te de longe. Você sabe. <3
Uau,interessante!Amei seu blog.Será que fazeria parceria com o meu???
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