Até as seis


São duas horas quando começamos fumar.

Você me pergunta se eu já estou chapada – não to sentindo nada- eu respondo. Pensando que seria assim até o final mais uma vez.

Traguei uma, duas, três, quatro. Nada.

Estou me sentindo normal, só talvez enrole a língua as vezes. Cinco, seis, sete. Nada. Muita fumaça, casa fechada. Trago, puxo ar até o pulmão, seguro, solto. A cozinha se torna nuvem.

Você me diz que já está muito chapado, e eu totalmente sóbria. Nem vai dar efeito.

No final ainda com uma ervinha, ultimo trago. Você vai pro quarto, eu vou para o banheiro. Me olho no espelho, normal. Sento no vaso, normal. Me perco em pensamentos. Nossa, onde está o papel higiênico? Caramba, tem um pacote fechado ali. Abro. Nossa, já tinha um papel aqui, abri atoa. Rio. 
-Nem vou ficar chapada- penso. Ergo o shorts que estava usando até o umbigo, e deixo ele na cintura, demorei perceber que arrumei errado. Rio. Talvez esteja começando fazer efeito.

Saio do banheiro, vou até seu quarto e abro a porta, dou de cara com sua irmã mais velha no computador. Fico confusa, não era pra você estar ali? Demoro alguns segundos pra lembrar que você estaria no quarto ao lado. Fecho a porta rindo muito, vou até o quarto certo, deito do seu lado e conto o que aconteceu. Te digo que não estou chapada ainda. Olho para minhas pernas, elas estão em cima das tuas... falo que eu não faço ideia de como foram parar ali, e que acho que TALVEZ eu esteja UM POUCO chapada. Rio. Você me vendo daquele jeito deveria estar pensando que eu não estava UM POUCO, mas MUITO louca.

Começo a cair na real o quanto tudo estava estranho, as mãos começaram a soar, pensamentos ruins vieram. O desespero de não conseguir fazer parar. Te digo como estou me sentindo, você olha nos meus olhos e diz que é assim mesmo, pra eu ficar tranquila que você estaria ali pra cuidar de mim. Pede pra eu fechar meus olhos, fica bem pertinho, diz pra controlar a respiração. Ficamos assim um tempo. Começo a melhorar das coisas ruins. Agora nós dois deitados na cama, um som de chuva no áudio do celular. É o que eu sempre te digo, nós dois sozinhos sempre acaba em sexo. Desta vez drogas também, só faltou o rock and roll.

Você tira minha roupa, eu tiro a sua. Me perco na tua nudez. Vou por cima. A droga deixa as coisas mais intensas. Com força, gemendo, gostoso. Rebolando, tua mão na minha bunda. Safado. Tua cara de tesão sendo a coisa mais doce em meses. Uma das melhores transas da minha vida, te fodo até não aguentar mais, você me fode até doer os músculos. Enquanto mete com força, diz – Não cansa nunca, mulher -. Você por cima, de frente, de lado, de tudo. Dei tudo.

Tua pele na minha, o fogo arde. Gosto. Você pede mais, goza.


Bruxa


Ela é o mar violento que te arrasta até o fundo, afoga sem deixar morrer, depois trás com calma até a superfície e expulsa pra areia.

Ela é fogo, chama que não se apaga, queima o que toca deixa marcas na pele pra nunca mais esquecer.

Ela é lâmina, corta, mutila e te manda andar até a esquina.

Ela é deusa, comanda e desmanda nas matas, os bichos obedecem, os espíritos correm. Defende com unhas e dentes os seres deste lugar.

Ela é tempestade, alaga as cidades que teu coração quis morar.

Ela é violenta. Persuade, chama pra caverna, faz apaixonar e depois te larga ali no canto pra chorar.

Ela é querida, te chama de vida e te faz querer amar.

Essa mulher é ventania, entra pelas tuas narinas te trás vida, esperança de que tudo vai melhorar. Depois vai embora, sem despedidas, quem mandou querer ficar.



Antônio

Noite passada o céu ganhou mais uma estrela. Eu não estive lá para ser testemunha da terra cobrindo teu corpo, enquanto isso esses pensamentos me atingiam em cassa e eu tentava dissipar. Não por te amar menos, vôzinho, mas por saber que me tiraria toda estabilidade que me restava por te perder.

Chegar todos os dias na tua casa, te dar um beijo, se estivesse comendo desejasse bom apetite- assim como você sempre falou para mim- Perguntar ‘tudo bem?’ e você dizia ‘ah vai indo’, e dar teu sorrisinho que nunca esquecerei.

A bengalinha batendo no chão, denunciando as pernas que precisam de apoio. A cadeirinha no sol, a bondade inesperada com os cachorros (que agora choram tua falta). Os miojos de legume bem temperados. Os passeios pelo quintal. Mandar eu te cobrir com apenas uma coberta porque se não ficará com calor. Aquelas conversas malucas sobre alienígena. Tua vontade de ter uma fazenda e cuidar dos teus boizinhos e outros animaizinhos. Tua mania de querer que eu corte o cabelo no ombro bem curtinho. Me dizia que logo eu ganharia mais peso, por me ver chateada, quando usava sua balança emprestada. Me dava presente e dizia que queria poder dar mais. . A forma que ficava feliz quando eu levava algum doce diferente pra você ‘nossa, mas tudo isso pra mim? Não precisa, vou ficar só com um’.


O senhor é um anjo, vô. Meu coração aperta por saber que está longe agora, eu choro mas sei que Deus fez a vontade Dele. Agora temos mais um pontinho no céu que brilha, que dorme, e que está vivo dentro de mim.


Menina do céu cor de rosa

Existem pessoas que não gostam de ler. Outras devoram livros independente da situação. Decidi levar meu livro para ler a caminho da faculdade, pois passei praticamente 6 meses sem explorar nenhum e preciso urgentemente mudar isso. A leitura abre portas. Principalmente quando se é escritor.

Acordar 5:30 não torna-se um fardo quando se pode ver o sol nascer todos os dias. Aquele céu iluminado por tons rosados e azuis encantadores fazem a calmaria da alma, pode dizer -talvez- que o dia valeu a pena apenas por aquele momento. Às vezes há nuvens, eu amo quando o céu esta pingado por elas, com várias uma ao lado da outra formando feixes da luz do sol. A maior tela que existe. A segunda coisa mais linda que já vi.

Agora sentada no ônibus, ao lado da janela. Não gosto de sentar sem ser ao lado da janela em ônibus lotado, as pessoas que estão em pé te empurram com suas bolsas enormes e inconvenientes ( esses dias, a propósito, tive vontade de bater em uma moça que fez isso. Extremamente desconfortável).

Abaixo os olhos fixamente em meu livro “os olhos do dragão”, de Stephen King. ( No momento estou lendo três livros. Este, Querido John de Nicholas Sparks e Sobre a escrita, também de King. Sei que vou demorar um tanto para acaba-los, até porque costumo ler apenas nessas viagens de ônibus. Mas por algum motivo desconhecido senti vontade de fazer isso) Nunca li nada dele, não gosto de terror, este que estou lendo é fantasia e o outro o titulo faz jus. 

Leio um tanto, confiro as cores mescladas do céu, e quando volto a leitura percebo de canto de olho que o homem ao meu lado esta com a cabeça um tanto curvada para o livro. Sabe aquela história de você sentada no ônibus, lendo, e alguém ao seu lado começa ler seu livro? Eu estava na parte ainda não-macabra de King. Quando o futuro rei e seu amigo novo de classe baixa competiam em seus sacos de batata. O marca página estava em cima das escritas que eu não estava lendo, e como se em um pedido mental do rapaz, retirei para que ele também pudesse acompanhar. Divertido compartilhar a história com alguém dessa forma. Como eu havia dito no inicio, existem pessoas que devoram livros. Inclusive os alheios.

Agora com o céu já claro, descendo o ônibus e caminhando ao meu próximo destino, me dei conta de que ainda existem pessoas interessadas em boas histórias. E sem que ele soubesse (Não lhe vi o rosto, nem lhe perguntei nome) esta em uma delas.


Borbofeels

Quando nascemos, junto com nosso corpo nasce também um ser curioso dentro do estômago. Elas se desenvolvem conforme nossos sentimentos. Primeiro são compridas e um tanto desagradáveis visualmente. Com o tempo, e o amadurecimento, se prendem em um casulo feito por elas mesmas, e ficam ali até acharem que estão prontas para enfrentar o que vem pela frente. Quando o dia fatídico chega, destruindo seu casulo, mostram suas asas enfeitadas, deslumbrantes.

Borbofeels são uma espécie desconhecida pela maioria das pessoas. Se alojando no estomago, são movidas por sensações. Ficam aprisionadas ate que o individuo sinta coisas boas. Só então elas podem se libertar uma a uma. Ocorre uma agitação, todas voando ao mesmo tempo- sua chance de ver o mundo esta apenas nesse momento- Se esforçam para que consigam atingir a sincronia perfeita, e ser a privilegiada.

A única que consegue atingir a perfeição, sai invisivelmente pela boca, enquanto se é solto um riso. Dos risos se libertam borboletas. As que não são dignas, no momento, esperam pacientemente até a próximas sensação, gerando assim mais e mais seres curiosos e magníficos. Com sua força de vontade, querem liberdade, mas sabem que se não conseguiram dessa vez, se tentarem da próxima talvez de certo. Uma hora elas saem, e ai terão a certeza de que estarão realmente preparadas para voar livremente pelos jardins floridos,tão lindos.

Dentro de cada um existe um exercito de belas criaturinhas, aquelas que prezam e admiram plenamente a felicidade. Aquelas que mesmo aprisionadas, sabem que terão a hora certa para brilhar. Aquelas borboletas que não se vêem em casulos por ai, saem de dentro de nós. Somos baús de um tesouro da natureza. Deixe que seus insetos alados se libertem.


Quase 6 meses sem escrever nada, é isso mesmo? Como disse na postagem anterior, comecei faculdade. E como todos devem saber, é só correria. Estou de férias e consegui, finalmente, ler algumas coisas e assim me inspirar para conseguir elaborar algum texto novamente. Espero conseguir conciliar estudos com a escrita a partir de agora, mas não garanto nada. Tentei algumas vezes parar na frente do notbook para escrever, mas simplesmente não fluía. Espero que tenha agradado.Até breve. Ou até minhas próximas férias.