Ela está na praia sentada na
pedra, tenta acender seu cigarro. Não consegue. Vento forte, chuva ás vezes. Na
terceira tentativa tem sucesso.
O mar com sua beleza não esconde
que é perigoso. Atrai quem passa, dá a sensação de que é a coisa certa a se
fazer, e quando vê foi engolido. Ele vem, quebra as ondas, volta. Violento.
Sedutor.
Ela despretensiosa, fuma devagar.
Sem pressa de viver. Agora senta na areia por que a pedra ficou desconfortável.
Está molhada da água, usando um biquíni que não combina, e uma regata
cor-de-rosa forte, chamativo e sem shorts. Traga, olha o mar, observa as
pessoas. Um casal e uma criança que brinca na areia, depois pula as ondas. Dois
homens, um na beira do mar, e outro mais longe. E dois salva-vidas com o
binóculos vezes olhando a bunda dela.
Puxa a fumaça, pega ar, segura,
sopra. O cigarro acabou, ela apaga e joga o que sobrou no lixo. Tira a blusa e
caminha em direção ao mar.
Algo estranho está para
acontecer.
Ela entra de uma vez, o vento
corta seu corpo. Se joga na água e começa a nadar. Esquece que as águas são
violentas, é envolvida pela espuma salgada. Esquece que com o mar não se
brinca.
Escuta um canto melódico e doce.
Perde a função dos membros do corpo.
Como é que se respira? Suas
narinas são inundadas com líquido. – Vou morrer, estou morrendo- pensa. Abre a
boca tentando em vão achar oxigênio. Sente algo tocar seu braço esquerdo, sente
alguma coisa à puxar bruscamente para mais fundo. –Estou morta. Mas por que
ainda penso?
Os olhos antes fechados, agora se
abrem. Agora pode enxergar o que está segurando seu braço: um ser de 1,90m,
negro, barba cinza, quase branca e muito comprida. Suas pernas não existem, no
lugar delas, está uma longa calda de peixe. Os olhos não ardem. Estranho. A
moça acha que está alucinando, mas um outro ser bizarro resgata ela para a
realidade.
- Quem é ela? – pergunta alguém
de meio metro, branco feito gelo, com aspecto velho, mas tendo no máximo dez
anos. Olhos esbugalhados, boca rocha e carnuda, o nariz é só um buraco no que
diz ser um rosto. O corpo pequeno, uma bola, e os braços curtos de mais para
seu tamanho. As mãos e pés são iguais, parecem de pato.
- Nossa nova sereia. –Responde o
Tritão.
Neste momento já haviam chego ao
fundo. Um lugar lindo, cheio de pedras coloridas e brilhantes, com casas, ruas,
postes de luz, lojas... tudo feito com o material incrível. Havia uma platéia.
Uma platéia diferente.
- Senhoras e senhores, a profecia
está se cumprindo. Uma humana se tornará um de nós. Assim como fomos avisados,
uma moça com essas características estaria no local indicado, exatamente a esse
horário. Aqui estamos ! - Ela não entende como algum som pode ser entendido
embaixo da água. Muito confusa, tenta falar alguma coisa. Não sai nada. Todos
observam o que ela está tentando fazer. Então se aproximam três sereias: Uma de
calda azul claro, outra lilás, e a outra marrom, todas brilhantes.
Elas colocaram um colar de pedras
coloridas no pescoço, pulseiras, brincos. E uma coroa pequena, cor de prata. A
cerimônia começa. Todos começam a cantar
em sincronia, palavras desconhecidas. Enquanto proferem, coisas acontecem.
Começa por dentro. Seus órgãos
mudam, adaptam. Depois em seu pescoço surgem guelras. Seu rosto muda, suas
mãos, suas pernas.
As pernas foi a sensação mais
estranha de todo o resto. Ela olha para elas, estão bem juntas, e começam a
coçar. A pele humana se transforma em escamas ásperas e firmes. Agora as duas
pernas grudam, e ela não consegue separar.
Agonia.
Tenta gritar, e dessa vez
consegue.
Sua cor é prata, mais brilhante
que a coroa. A metamorfose está completa.
Eis que nasce a nova rainha.